domingo, 4 de setembro de 2011

Relato de parto - Parte II

O último ultrassom que havia feito já tinha muito tempo. Não lembro exatamente quando, mas o Davi ainda tinha 1,3kg. Estava com uma ultra agendada para a sexta-feira seguinte. Não sabia o tamanho dele e achava que ele estaria pequeno demais. Não parava de tremer e a água jorrava de mim. Foi muuuuita água. Coisa de filme mesmo. Um líquido assim meio esbranquiçado e com uns pedaços meio rosa, tipo água de melancia. Eu fechava as pernas não sei pra quê, pois não adiantava nada. Sorte que eu tinha dado um pulo da cama e a maior parte foi no chão do quarto mesmo e quase não sujou o lençol e o colchão (dona Neura agradece).

Enquanto ia tomar banho, Tide ligou para o meu médico, minha mãe e a mãe dele. Enquanto tomava banho, saía mais água de mim. Foi como se um balão tivesse estourado dentro de mim (e foi mais ou menos isso) e nessa hora só saía o fiapinho de água que sobrou depois do estouro. Tide me avisa: "nós vamos para a Barra. O doutor está lá atendendo uma paciente". Era uma escolha entre ser atendido rapidamente na Barra ou depois de umas duas horas em Laranjeiras, bem mais perto da minha casa. Não conversamos. Fomos para a Barra.

Peguei qualquer roupa minha, qualquer roupa do Davi (tinha passado cueiro, toalha, paninho e deixado as roupas para depois - então, as roupas escolhidas estavam todas amassadas), umas roupas para o pai. Enfiamos de qualquer jeito na bolsa de fralda e fomos.

A rua estava deserta e não lembro direito o que conversamos. Só sei que no carro, comecei a monitorar as minhas contrações. Logo depois que a bolsa estourou, comecei a sentí-las. Até então, nadica de nada de dor. No banho, as primeiras pontadas rápidas. Já no carro, elas estavam mais frequentes (8 em 8 minutos) e doíam um pouco mais. Ao chegar na maternidade, elas já estavam de 4 em 4 minutos e quando uma vinha, não dava mais para conversar.

Minha mãe e irmã chegaram antes da gente no hospital. Rapidamente subimos para o quarto e o doutor já estava lá nos esperando. Ainda me tremia toda, sem parar. Ele trouxe um aparelho para escutar o coração do bebê e fez o toque. Estava com 3 para 4 centímetros de dilatação. E aí veio a notícia ruim: Davi estava encaixado de face (e não de cocoruto, como tinha de ser). O diâmetro da face é maior do que o do topo da cabeça, uma complicação para o parto normal. E ainda havia um agravante. Davi estava com uma das mãos na testa.

Nessa hora, o médico disse que teria de ser uma cesariana. Ele era prematuro (achava que estava com 35 semanas, mas na verdade eram 33 semanas e 6 dias, segundo a estimativa do neonatologista depois que o Davi nasceu) e estava em uma posição que dificultaria o parto normal que eu tanto queria. Não queria ser cortada. Queria parir. Mas na hora não tive peito para argumentar, para tentar dissuadir o médico ou questionar. Nem tive coragem de pedir muita explicação. Estava com medo e ao mesmo tempo me sentia um pouco desconectada, como se aquilo não estivesse acontecendo de verdade. Tive dificuldade para aceitar que o Davi realmente estava nacendo um mês antes do programado.

Depois do exame do médico, aconteceu tudo muito rápido. Me transportaram para a sala de cirurgia em uma maca e achei muito esquisita a perspectiva em que eu me encontrava. Eu olhava aquele teto branco, as luzes, enquanto me empurravam, tinha um ponto de vista de uma pessoa que estava doente. Ruim demais. Acho que dava para ir andando, mas também não questionei nada.

Entrei na sala de cirurgia, que estava cheia, com os dois obstetras, uma ajudante (enfermeira, técnica de enfermagem, não sei direito), o neonatologista e o anestesista. "Cadê o Tide?" era o que me passava pela cabeça. E eu tremia. Estava muda e só olhava para a porta de entrada da sala. Entrava todo mundo e menos o Tide. Uma agonia. Depois, fiquei sabendo que só deixam entrar o pai depois que já está tudo arrumado e a cirurgia está prestes a começar. Ele disse que foi a meia hora mais demorada da vida dele, enquanto esperava do lado de fora.

Enquanto olhava para a porta, o anestesista me perguntou se estava tudo bem. Balancei a cabeça dizendo que sim. "A dor já vai passar", disse ele. Me viraram de lado, deitada mesmo, e aplicaram a anestesia nas costas. Não senti absolutamente nada e em um segundo perdi a sensação da cintura para baixo. Me colocaram de novo com o rosto para cima e fecharam a minha vista com aquele pano azul. Aí que o Tide entrou.

Ele viu tudo, tirou foto inclusive. Depois me perguntou se eu senti alguma coisa. Eu não senti nada, nem eles mexendo na minha barriga. Vendo programas de parto no Discovery Home and Health, vejo que algumas mulheres sentem uma pressão na barriga na hora em que o médico puxa o bebê. Eu não, nadica de nada. Nem pressão, nem o cheiro de carne queimada (o Tide disse que sentiu esse cheiro porque eles usaram bisturi elétrico para me cortar). Eu só tremia e chorava. Baldes.

Até que, de repente (às 4h06), veio o som. O mais esperado e o mais inesperado. O choro. Ele chorava e eu chorava mais. E tremia. Não conseguia falar. Antes de levar até mim, foi pesado, aspirado, checado. O pai acompanhando e eu só ouvindo. Além da posição ruim em que estava, Davi também tinha uma circular de cordão, que segundo o obstetra estava bastante apertada.

Nasceu no dia 27 de fevereiro, com 49cm e 2,380kg. Depois veio para o meu peito. Não para mamar, só para se apoiar. Muito rápido. Estava com a cabeça toda roxa e com muito sebo, mas eu achei a coisa mais linda do mundo inteiro. E levaram ele de novo.

(continua)

2 comentários:

Ju disse...

Vc chorava porque? emoção? medo? pq queria normal? ou pq estava preocupada pq o Davi era mt pequenino? ou tudo juntoemisturado? Aí, lendo relato de parto me dá um medo...
beijos, ju

No mato sem cachorro disse...

É a maior emoção de nossa vida! Tudo juntomisturado como a Ju disse, uma explosão de emoções.