segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Relato de parto - Parte III

Levaram o Davi embora para o berçário. Ele nasceu chorando com força, mas depois começou a apresentar sinais de cansaço, ofegante. "Vou dar duas horas de chance para ele", disse o pediatra. Se não voltasse a respirar com mais serenidade, iria para a UTI. E foi. Infelizmente.

Eu ainda não sabia direito o que estava acontecendo com o Davi. Voltei para o quarto, enquanto o pai o acompanhava no berçário. Minha mãe e minha irmã estava lá, me aguardando. Não lembro direito o que falamos. Não sei se foi a anestesia, o cansaço, o baque emocional, mas eu me sentia totalmente dormente. Estava feliz pelo nascimento, mas ao mesmo tempo me sentia desconectada. Não parecia que aquilo tudo estava acontecendo.

Tentamos eu e o pai dormir um pouco. Já era de manhã e se eu dormi uma hora de sono foi muito. Logo chegou a mãe dele e alguns familiares. Eles falavam, falavam, sem parar. Era muita felicidade. Lembro de só balançar a cabeça e sorrir, como se estivesse concordando e acompanhando a conversa, mas a verdade era que eu não estava entendendo nada. Estava grogue, desconectada.

Logo foram embora e a enfermeira trouxe meu almoço. Tinha de levantar, tomar banho e depois almoçar. "Recomendação do médico". Tentei levantar e aí sentir A MAIOR DOR da minha vida inteira. Forcei um caminhar até o banheiro para entrar no chuveiro, mas quase desmaiei. Fiquei branca e me colocaram de volta na cama, com a cabeça mais baixa do que o resto do corpo para o sangue voltar. Foi horrível. A pior dor.
Almocei com calma e lembro do Tide dizer: "você não que ir ver o Davi? Para isso, precisa levantar". E só aí me convenci de que não tinha mesmo outro jeito. Levantei, tomei um banho (e não sei porque o banheiro daquela maternidade tinha um espelho de corpo inteiro - ninguém merece se ver costurada e inchada como eu me vi). E fui me arrastando para a UTI. O Davi estava lá. Com um tubinho no nariz para ajudar a respiração (CPAP, o nome do aparelho) e os dois olhinhos roxos. Depois o pediatra nos contou que havia também um roxinho na cabeça, que logo sumiu. Ele nasceu bem amassado, como se já estivesse no canal de parto há muitas horas, segundo o pediatra (e eu sem sentir nada antes da bolsa estourar, vai entender). Aí começava a batalha dos 10 dias (conto melhor num outro post), que iria acabar na terça-feira de Carnaval, quando finalmente o Davi foi para casa.

Bem, taí o relato. Não foi do jeito que eu queria. Mas foi do jeito que aconteceu. Ouvi depois uma coisa que me confortou: "o melhor parto é aquele que a gente pode ter". Então, foi isso que aconteceu. Esse foi o parto que eu pude ter sem que nada mais grave acontecesse. Mesmo indo para a UTI, Davi estava bem e ficaria bem. E seu nascimento trouxe pra família, pra gente, pra mim, um sopro de vida. Uma certeza de que o inesperado nos traz sim boas surpresas.

Para fechar o relato, reproduzo abaixo um e-mail que minha mãe mandou para a família e amigos. Descreve bem e de maneira sucinta o que aconteceu naquele mês de fevereiro. O título do e-mail era VIDA-DAVI e inspirou o nome do blog.

Oi minha gente querida,

O ciclo da vida anda frenético mesmo. Depois da partida do meu irmão, dia 15/02, com tumor no pâncreas, chega o nosso Davizinho. Uma montanha russa de emoções que a vida nos coloca à prova mas também nos ensina do seu valor.

Meu irmão lutou até o fim para ficar entre nós, mas não foi possível, partiu aos 47 anos cheio de vontade de viver. Lembranças e muita saudade é o que ficou, além de muitos questionamentos sobre nossa própria vida.

Dia 27/02 o Davi se junta a nós cheio de pressa, nasceu de 8 meses, 2.380kg e 49cm, e por conta de sua mãozinha na cabeça (um pensador), o parto não pôde ser natural. Liza passa muito bem e o pai, Tide, não consegue parar de rir. Quanto ao Davi... já está agarrando nossos dedos com a força de um lutador e olhando nos nossos olhos com a certeza do que quer.

Então, comunico a todos os amigos e familiares que estamos mais uma vez celebrando a VIDA. Que tenhamos sabedoria para entender deste ciclo que nos tira e nos dá tantas alegrias.

Beijão a todos,
dos avós mais novos do pedaço, Miriam e Roberto
ps: e começa a babação...

4 comentários:

Ju disse...

me emocionei... bjus

Anônimo disse...

Liza, o que seu obstetra falou sobre o rompimento de bolsa prematuro? Meu caso foi bem parecido com o seu, com 35 semanas a bolsa rompeu, mas não entrei em TP. Fui pro hospital e tentaram induzir, com 6cm o TP estacionou, bebe entrou em sofrimento e tive um princípio de descolamento de placenta. Fizemos cesárea, foi tudo bem, mas também fiquei questionando depois se poderia ter sido diferente.... O obstetra disse que provável que alguma infecção tenha causado o rompimento da bolsa. Já desencanei e aceitei meu parto. Agora estou a espera de mais um bebezinho, desejando desta vez ter um parto normal! Beijos! Seu bebe é lindo!

Luisa Tonezzer disse...

Olá Liz, somos no site da C&A e estamos atualizando no Mailing de blogueiras. Você poderia me manda por email (luisa@trip.com.br) o seu email, nome completo e cidade onde reside! Obrigada, Luisa.

No mato sem cachorro disse...

O Davi foi realmente o presente que precisávamos e não poderia ser sem emoção, como será sempre!